Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) demonstra as dificuldades que o idoso enfrenta para conseguir atendimento médico na rede privada. Das 20 maiores operadoras de planos de saúde que atuam em São Paulo, apenas oito vendem planos individuais para quem tem mais de 60 anos.
 
Cinco submetem os interessados a exames médicos. A prática é chamada de "entrevista qualificada", um eufemismo para disfarçar um fato: o idoso não é bem-vindo. Para o Idec, o exame prévio é ilegal. Ele é um desrespeito ao artigo 52 da Constituição, que preserva a intimidade do cidadão. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) permite a prática da entrevista qualificada, mas o consumidor tem o direito de escolher se quer passar pelo exame.O idoso custa mais às operadoras, por precisar de mais cuidados. Mas paga mensalidade mais alta. O problema nas contas das operadoras não é causado por essa faixa etária. Nos últimos cinco anos, a despesa do setor cresceu mais que a receita por outros motivos - entre eles o número excessivo de pedidos desnecessários de exames, tratamentos e cirurgias. Os planos de saúde pagam os hospitais segundo um modelo de remuneração equivocado. O modelo estimula o uso sem critério de material e medicamento e a cobrança de valores excessivos por serviços. Para conter o problema, as operadoras mantêm auditores nos hospitais. Essa fiscalização em si representa outro gasto adicional. As entidades representativas de hospitais e convênios dizem defender a mudança do sistema, mas não chegam a um acordo. Na transição para um novo modelo, nenhum dos lados quer reduzir suas margens de lucro. Em vez de impor restrições ao cliente, as empresas deveriam consertar os ralos por onde escorre o dinheiro. O mercado da saúde privada precisa de um choque de transparência e bom-senso.
 
Fonte: Revista Época - dia 18/08/2014

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